Há vários inventários e listagens
elaborados por especialistas contendo indicadores e características específicas
que permitem a identificação de comportamentos e perfis de alunos com altas
habilidades/superdotação.
Estes instrumentos podem ser de grande valia, para os
pais e professores, na identificação de necessidades educacionais especiais, que precisam
ser atendidas, no contexto escolar.
Dificilmente um aluno vai apresentar
todos os indicadores contidos num determinado inventário, mas com frequência, vários aspectos de suas características serão
apontados. Além disso, dificilmente um inventário conterá todos os
indicadores possíveis, já que cada um se origina de uma leitura teórica
que, como já vimos anteriormente, está sempre em processo de ampliação,
englobando novas áreas de desempenho.
Assim, é importante que tanto os
pais, como os professores, ao utilizar um inventário ou ficha,
tomem seus elementos como exemplos possíveis de traços na identificação de
altas habilidades/superdotação. Entretanto, é também importante
considerar que quanto maior o número de traços presentes em uma criança, maior
a segurança que se pode ter da presença da superdotação.
Whitmore (1985), publicou
um documento denominado “Características das crianças intelectualmente dotadas”, que aqui transcrevemos com o intuito de auxiliar o trabalho de observação de
pais e de professores, ao estudar crianças que parecem apresentar altas habilidades.
Pequenos ajustes de expressão foram efetivados na tradução, para facilitar a
compreensão do texto.
Lembramos, entretanto, que a superdotação
pode existir em somente uma área da aprendizagem acadêmica, tal como
matemática, por exemplo, ou pode ainda ser generalizada em habilidades que
se manifestam através de todo o currículo escolar (Lewis e Doorlag, 1991).
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS
GERAIS
• Muitos aprendem a ler mais cedo
que as demais crianças de sua idade, apresentando uma melhor
compreensão das nuances da linguagem... é frequente que
leiam com maior rapidez, mais intensidade e apresentem
vocabulários mais amplos. Mas existe um outro grupo que também pode apresentar dificuldades em ler e escrever até a pré-adolescência, porque justamente suas altas habilidades estão voltadas para outra área.
• Geralmente aprendem habilidades básicas melhor, mais rapidamente, e com menor número de exercícios práticos.
• Frequentemente são capazes de identificar e de interpretar dicas não verbais, elaborando inferências que outras crianças dependem do adulto para fazer.
• Têm menor aceitação de “verdades prontas”, buscando os “como” e os “porques”.
• Geralmente aprendem habilidades básicas melhor, mais rapidamente, e com menor número de exercícios práticos.
• Frequentemente são capazes de identificar e de interpretar dicas não verbais, elaborando inferências que outras crianças dependem do adulto para fazer.
• Têm menor aceitação de “verdades prontas”, buscando os “como” e os “porques”.
• Apresentam melhor habilidade de
trabalho independente, mais cedo e por períodos de tempo mais
longos que outras crianças.
• Podem manter períodos de
concentração e de atenção mais longos, principalmente nos assuntos de seu interesse ou que fogem do convencional.
• Seus interesses são, frequentemente, tanto amplamente ecléticos como intensamente focalizados.
• Frequentemente apresentam uma
energia aparentemente interminável, que às vezes conduz a um diagnóstico
errôneo de “hiperatividade”.
• São geralmente capazes de
responder e de se relacionar bem com pais, professores e outros
adultos. Eles podem preferir a companhia de crianças mais velhas e
de adultos, ao invés da companhia de colegas da mesma idade.
• Eles são sempre motivados a
examinar aquilo que é incomum, sendo altamente inquisitivos (fazem
muitas perguntas, buscando compreensão do fenômeno).
• Seu comportamento é frequentemente
bem organizado, direcionado para um objetivo, e eficiente no que se refere a
tarefas e à solução de problemas.
• Eles exibem uma motivação
intrínseca para aprender, para descobrir ou para explorar, sendo frequentemente
muito persistentes. “Eu prefiro eu mesmo fazer” é uma
atitude comum.
• Eles gostam de aprender coisas
novas e de novas formas de fazer as coisas.
• Eles apresentam capacidade de
manter períodos mais longos de atenção e de concentração, do que
seus colegas, principalmente quando se trata de assuntos de seu interesse.
CARACTERÍSTICAS DE APRENDIZAGEM
• Eles podem apresentar poder de
observação, exibir uma percepção clara do que é significativo e ser
especialmente atencioso para detalhes importantes.
• Eles podem ler com bastante
independência, mostrando preferência por livros e revistas escritos para crianças
mais velhas.
• Frequentemente demonstram grande
prazer na atividade intelectual.
• Eles apresentam capacidades bem
desenvolvidas de abstração, de conceituação e de síntese.
• Geralmente têm um rápido insight
das relações de causa e efeito.
• Frequentemente apresentam uma
atitude de questionamento e de busca de informação pelo simples
prazer de dominar o conhecimento, bem como pelo seu valor instrumental.
• Frequentemente são céticos,
críticos e avaliadores. São rápidos na identificação de inconsistências.
• Frequentemente, armazenam uma
ampla gama de informações, relativas a uma variedade de
assuntos, as quais podem acessar e às quais podem recorrer,
rapidamente.
• Mostram uma pronta compreensão de
princípios implícitos, e podem, frequentemente, fazer generalizações válidas
sobre eventos, sobre pessoas e sobre objetos.
• Eles podem rapidamente perceber
semelhanças, diferenças e anomalias.
• Frequentemente abordam um material
complexo, dividindo-o em seus componentes e analisando-os
sistematicamente.
CARACTERÍSTICAS DE PENSAMENTO
CRIATIVO
• São pensadores fluentes, capazes
de produzir uma grande quantidade de possibilidades, de consequências, ou de ideias correlacionadas.
• São pensadores flexíveis, capazes
de usar muitas alternativas e abordagens diferentes para a solução
de um problema.
• São pensadores originais, buscando
associações e combinações novas, incomuns ou não
convencionais, entre itens de informação. Eles também apresentam a habilidade
de perceber relações entre objetos, ideias ou fatos aparentemente não
relacionados.
• São pensadores elaborativos,
produzindo novos passos, ideias, respostas, ou outros embellishments
perante uma ideia, uma situação, ou um problema básico.
• Mostram desejo de se entreter com
assuntos complexos, parecendo vibrar em situações que envolvem problemas a
serem solucionados.
• São muito imaginativos, intuitivos e bons “adivinhos”, podendo,
rapidamente, construir hipóteses ou questões do tipo “como seria,
se...”.
• Frequentemente têm consciência de
sua própria impulsividade e da irracionalidade em si próprios, mostrando
sensibilidade emocional.
• Apresentam um alto nível de
curiosidade sobre objetos, ideias, situações ou eventos, principalmente sobre aqueles que fogem do convencional.
• Frequentemente mostram uma
prontidão para o exercício intelectual, para fantasiar e para imaginar.
• Podem ser menos inibidos
intelectualmente que seus colegas, ao expressar opiniões e ideias, bem
como frequentemente exibem uma discordância espirituosa.
• Têm sensibilidade para a beleza e
são atraídos para as dimensões estéticas de um fenômeno, de um evento, de um espaço ou de uma idéia.
As características descritas
anteriormente podem se manifestar de forma construtiva, favorecendo a
aprendizagem e boas relações interpessoais, como podem se
manifestar de forma dificultadora, determinando relações interpessoais difíceis
e dolorosas. Neste caso, pode ocorrer intolerância, ridicularização e falta de compreensão
por parte dos colegas e professores, bem como o aluno pode ser considerado estranho ou “anormal”
pelos professores. Geralmente, tal situação pode se encaminhar para a rejeição
da criança, seu isolamento, marginalização e consequente exclusão da escola ou do grupo social ao qual
pertence.
Assim, o pensamento crítico, por
exemplo, tão importante para o processo de aprendizagem e de
desenvolvimento da criança, pode se manifestar através de:
• Uma tendência a discordar
verbalmente das outras pessoas, inclusive dos professores, quanto a suas ideias
ou valores.
• Uma tendência a dominar os colegas
e as pessoas, de maneira geral.
• Ser autocrítico, crítico dos
outros, dos professores, mostrando impaciência com falhas.
O alto grau de motivação,
igualmente, pode determinar:
• Recusa da aceitação de autoridade.
• Inconformismo, teimosia exagerada.
• Dificuldade em largar a atividade
na qual está interessada, e passar para um próximo tópico, por exigência do
professor ou do adulto responsável.
• Tendência a dominar as demais
pessoas.
• Discordar, frequentemente, das
demais pessoas, inclusive dos professores.
Por outro lado, a criatividade pode
também se manifestar de forma negativa, através de:
• Desinteresse por tarefas
rotineiras.
• Impaciência ao ter que esperar que
os demais alunos do grupo terminem suas atividades.
• Recusa a fazer tarefas que não
representam um desafio.
• Apresentação de piadinhas e de
ironia para criticar as demais pessoas.
• Ser percebido, pelos colegas, como
uma pessoa exibida.
• Ser percebido como teimoso,
voluntarioso, não cooperativo e apresentar desinteresse por detalhes.
• Apresentação de trabalhos e
cadernos desorganizados e sujos.
No aspecto afetivo-emocional, também
pode manifestar:
• Hipersensibilidade emocional,
enraivecendo-se facilmente, apresentando reações emocionais exacerbadas para as
situações, ou chorando se as coisas não saírem
como desejam.
• Vulnerabilidade e fortes reações
emocionais a críticas.
• Recusa a participar de atividades
nas quais não se sobressaia, limitando, assim, suas possíveis
experiências apenas com atividades agradáveis e fisicamente construtivas.
Tanto os pais, como os professores,
precisam primeiramente procurar identificar as características presentes na
criança, para então buscar as formas de poder ajudá-la a utilizar suas
habilidades e competências, com vistas ao benefício de sua aprendizagem e
desenvolvimento geral nos aspectos físicos, cognitivos, intuitivos, afetivos e sociais.
Os alunos com altas habilidades/superdotação
nem sempre apresentam as mesmas habilidades e aptidões, nem todos têm o mesmo potencial
e não necessitam apresentar todo o conjunto de características descritas.
Observa-se com frequência um conjunto de indicadores, em componentes combinados
de algumas características (comportamentais, aprendizagem, criatividade entre
outros).
Entre os tipos de altas
habilidades/superdotação, apontam-se tradicionalmente:
1) o tipo intelectual, que apresenta
flexibilidade, independência, fluência de pensamento, produção
intelectual, julgamento crítico e habilidade para resolver
problemas;
2) o tipo social, que revela
capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa,
sociabilidade expressiva, poder de persuasão, influência no grupo;
3) o tipo acadêmico, com capacidade
de atenção, concentração, memória, interesse e motivação pelas
tarefas e capacidade de produção;
4) o tipo criativo, com capacidade
de encontrar soluções diferentes e inovadoras, facilidades de
auto-expressão, fluência, originalidade e flexibilidade;
5) o tipo psicomotorcinestésico, que
se destaca por sua habilidade e interesse por atividades físicas e
psicomotoras, agilidade, força e resistência, controle e coordenação motoras;
6) e finalmente, o tipo talentos
especiais, que revelam destaque em artes plásticas, musicais, literárias e
dramáticas, revelando especial e alto desempenho (conceituação adotada pelo
MEC/SEESP, 1995).
Fonte: Projeto Escola Viva - Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial
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