Você já
reparou como a maioria das pessoas a sua volta tem pouca energia, inclusive
seus pais e professores? Eles estão morrendo aos poucos, mesmo quando seus
corpos ainda não estão velhos. Por que? Porque eles foram condicionados e levados à submissão
pela sociedade.
Veja bem,... sem compreender seu propósito fundamental que é descobrir
essa coisa extraordinária chamada mente,... que tem a capacidade de criar
submarinos atômicos e aviões à jato,... que pode escrever a mais surpreendente
poesia e prosa,... que pode fazer o mundo tão belo e também destrui-lo – sem
compreender seu propósito profundamente, que é descobrir a verdade ou Deus, esta
energia se torna destrutiva. Mas então vem a sociedade e diz, “devemos moldar e
controlar a energia do indivíduo”.
Então, me parece que a função da educação é
provocar uma liberação de energia na busca da bondade, verdade ou Deus, o que
faz do indivíduo um verdadeiro ser humano e, portanto, o tipo correto de
cidadão, livre, independente, autônomo e autosuficiente. Mas a simples disciplina, sem a completa compreensão de tudo isto, não tem
qualquer significado e se torna a coisa mais destrutiva.
A menos que cada um de vocês seja
educado de tal modo que, ao deixar a escola e entrar no mundo, esteja
cheio de vitalidade e inteligência, cheio de energia transbordante para
descobrir o que é a verdade, você será simplesmente absorvido pela sociedade, você
será sufocado, destruído e se tornará miseravelmente infeliz pelo resto de sua vida.
Como o
rio cria as margens que o retém, assim a energia que busca a verdade cria sua
própria disciplina sem nenhuma forma de imposição; e assim o rio chega ao mar, da mesma forma
como essa energia encontra sua própria liberdade.
(Think On These Things,
Chapter 24)
Qual é a verdadeira função
de um educador?
Qual é a
verdadeira função de um educador? O que é educação? Por que somos educados?
Somos realmente educados? Porque você passa em alguns exames, tem um emprego,
para competir, lutar, brutalizar a ambição, isso é educação?
O que é um educador?
Educador é aquele que prepara o aluno para um emprego, simplesmente um emprego, para
um empreendimento técnico a fim de ganhar a vida? Bem, pelo menos isso é o que conhecemos
presentemente.
Há grandes escolas, universidades onde se prepara a juventude,
rapaz ou moça, para ter um emprego, ter conhecimento técnico de modo que ele ou
ela possam ter um sustento. É apenas essa a função do verdadeiro educador? Deve
haver alguma coisa além disso, pois isso é muito mecânico, vazio de alma.
Então você diz que o
educador deve ser um exemplo. Tudo bem. Você concorda que terá que acompanhar
a verdade do assunto, entrar nele. Mas quando você entrar nele vai acabar descobrindo a verdade
disso, ou seja, que nenhum exemplo é necessário. O necessário é apenas a liberdade e a energia para você descobrir a sua própria verdade.
(J. Krishnamurti The
Collected Works Volume VIII)
A educação está em suas mãos.
Qual é o lugar da disciplina na educação?
Eu diria nenhum e explicarei, num instante.
Qual é o propósito da disciplina? O que você quer
dizer com disciplina? Você, sendo o professor, quando você disciplina, o que
acontece? Você está forçando, obrigando, impondo limites; há uma compulsão, mesmo delicada, mesmo
gentil, de estabelecer o que significa conformidade, submissão, limitação, medo.
Mas você dirá, “Como pode
uma grande escola ser dirigida sem disciplina?” Não pode. Portanto, grandes
escolas deixam de ser instituições educacionais e se tornam apenas instituições rentáveis,
para o patrão ou para o governo, para o diretor ou o dono. Senhor, se você ama
seu filho, você o disciplina? Você o obriga? Força-o em um padrão de
pensamento?
Você o observa, não é? Tenta entendê-lo e tenta descobrir quais são os
motivos, os anseios, os impulsos, que estão por trás daquilo que ele faz e
compreendendo-o você irá produzir o ambiente correto, a quantidade correta de sono,
a comida correta, a quantidade correta de brincadeira, de que ele precisa. Tudo isso está
implicitado quando você ama uma criança, mas nós não amamos as crianças, porque
não temos nenhum amor em nossos corações. Apenas criamos as crianças. E
naturalmente, quando você tem muitas, deve discipliná-las e a disciplina se
torna um caminho fácil para enfrentar essa dificuldade de cria-las.
Entretanto, disciplina significa
resistência. Você cria resistência contra aquilo que você está impondo.
Você pensa que a resistência produzirá compreensão, pensamento, afeição? A
disciplina só pode construir muros em sua volta. A disciplina é sempre exclusiva,
ao passo que a compreensão é inclusiva. A compreensão chega quando você
investiga, quando examina, quando explora, o que requer consideração, cuidado,
pensamento, afeição.
Numa escola grande, tais coisas não são possíveis, mas
apenas numa escola pequena. Mas escolas pequenas não são lucrativas para o dono
particular ou para o governo e desde que você, que é responsável pela escolha do governo,
não está realmente interessado em seus filhos, quem vai se importar?
Se você amasse seus
filhos, não simplesmente como brinquedos, como coisas para diverti-lo um pouco
e gerar algum aborrecimento depois, se você realmente os amasse, permitiria que todas
estas coisas continuassem? Não gostaria de saber o que eles comem, onde dormem,
o que fazem o dia inteiro, se batem neles, se são oprimidos, se são traumatizados, destruídos?
Mas isto significaria uma investigação, consideração pelos outros, seja por
seus próprios filhos ou os de seu vizinho, mas você não tem esta consideração, não tem este amor, seja
por seus próprios filhos, ou mesmo por sua esposa ou marido. Assim, a causa e a solução do problema está em suas
mãos, senhores, não nas mãos de algum governo ou sistema. Assumam e deixem de empurrar a responsabilidade para os outros. E a solução de tudo qual é? É o amor, mas não este que você pensa e diz que tem.
(The Collected Works, Vol IV Bombay 9th Public
Talk 13th March, 1948)
A educação correta é uma
tarefa mútua.
Se o
professor assume um interesse real pela criança como um indivíduo, os pais
terão confiança nele. Neste processo, o professor estará educando também os pais assim
como a si mesmo, enquanto aprende de volta com eles.
A educação correta é uma
tarefa mútua, exigindo paciência, dedicação, consideração e afeto. Professores esclarecidos,
numa comunidade esclarecida, poderiam trabalhar este problema de como criar
as crianças e experimentos nesta linha deveriam ser feitos numa escola pequena,
por professores interessados e pais cuidadosos.
A maturidade chega com a
compreensão
Não
existe diferença essencial entre o idoso e o jovem, pois ambos são escravos de
seus próprios desejos e gratificações. Maturidade não é uma questão de idade,
ela vem com a compreensão. O ardente espírito de investigação é talvez mais
fácil para o jovem, porque aqueles que são mais velhos já foram esgotados pela
vida. Os conflitos os exauriram e a morte sob diferentes formas os aguarda.
Isto não significa que eles sejam incapazes de realizar uma investigação proveitosa, só é mais difícil para eles.
Muitos adultos são imaturos e mesmo infantis
e esta é uma causa que contribui significativamente para o caos e miséria do mundo. As pessoas mais
velhas são responsáveis pela predominante crise econômica e moral e uma das
nossas infelizes fraquezas é que queremos sempre um outro alguém para tomar decisões e agir por nós e
cuidar do curso de nossas vidas.
Esperamos sempre que outros se revoltem e construam o
novo, enquanto nós permanecemos inativos e acomodados até estarmos seguros do resultado. A maioria
de nós está atrás de segurança e sucesso e uma mente que está buscando
segurança, que anseia por sucesso, não é inteligente e, portanto, é incapaz de
ação integrada.
Só pode haver ação integrada se a pessoa está cônscia do
próprio condicionamento, de seus próprios preconceitos raciais, nacionais,
políticos e religiosos, ou seja, só quando a pessoa percebe que os caminhos do
ego são sempre separativos.
A vida é um poço de águas profundas. A pessoa pode
chegar a ele com pequenos baldes e pegar só um pouco de água de cada vez, ou pode chegar
com grandes vasilhas, levando águas abundantes que o nutrirão e o sustentarão.
Enquanto a pessoa é jovem, vive o tempo de investigar e de experimentar tudo. A
escola poderia ajudar seus jovens a descobrir sua vocação e responsabilidades através de atividades práticas
que os ajude a descobrirem-se e aprenderem a andar com suas próprias pernas e não meramente encher suas mentes com fatos e conhecimento tecnológico; devia
ser apenas a base de sustentação, o solo fértil onde eles poderiam crescer felizes e integralmente, sem qualquer medo.
(Education and the
Significance of Life Chapter 2 The Right Kind of Education)
Uma visão geral sobre a
vida e obra de Krishnamurti
Jiddu
Krishnamurti nasceu em 11 de maio de 1895 em Madanapele, uma pequena vila no
sul da Índia. Ele e seu irmão foram adotados em sua juventude pela Dra. Annie
Besant, então presidente da Sociedade Teosófica. Dra. Besant e outros
proclamaram que Krishnamurti seria um dia um mestre instrutor do mundo, que viria como os
teosofistas haviam previsto. Para preparar o mundo para sua chegada, uma
organização internacional chamada Ordem da Estrela do Oriente foi formada para que o
jovem Krishnamurti viesse a ser o seu líder.
Em 1929,
entretanto, ao ser empossado como líder desta organização Krishnamurti em seu discurso de posse surpreendeu a todos renunciando ao papel que lhe fora destinado e dissolvendo em seguida a
Ordem que tinha inúmeros seguidores e devolvendo todo o dinheiro e as propriedades, inclusive um castelo na Escócia, que haviam sido
doados para o seu trabalho.
A partir
de então, por quase sessenta anos, até sua morte em 17 de fevereiro de 1986,
ele viveu de maneira simples e despojada e viajou pelo mundo todo falando para grandes audiências e indivíduos sobre a
necessidade de uma mudança radical na consciência da humanidade.
Krishnamurti
é tido mundialmente como um dos maiores filósofos, pensadores e instrutores religiosos de
todos os tempos. Ele era um livre pensador e não seguia nem apresentava nenhuma filosofia ou religião, mas falava
sobre coisas que preocupam a todos nós em nossa vida diária, dos problemas do
viver numa sociedade moderna com sua violência e corrupção, da busca individual
por segurança e felicidade e da necessidade da humanidade de se livrar do peso
interior do medo, da dor, da tristeza e do apego. Ele explicou com grande precisão o
funcionamento da mente humana e apontou a necessidade para trazer à nossa vida
diária uma qualidade profundamente meditativa e espiritual.
Krishnamurti
não pertencia a nenhuma organização religiosa, seita ou país, nem estava
associado a qualquer escola política ou pensamento ideológico. Pelo contrário,
ele afirmou que estes são os verdadeiros fatores que dividem os seres humanos e
que provocam o conflito e a guerra. Ele lembrava incessantemente aos seus
ouvintes que antes de sermos hindus, muçulmanos, ou cristãos, somos seres
humanos, que somos iguais ao resto da humanidade e que não somos diferentes uns
dos outros. Ele pediu que andemos suavemente por esta Terra sem nos destruirmos ou
destruirmos ao meio ambiente. Ele transmitiu aos seus ouvintes um profundo senso de
respeito pela natureza. Seus ensinamentos transcendem os sistemas de crenças
feitos pelo homem ou qualquer sentimento de nacionalismo ou de sectarismo. Ao mesmo
tempo, eles dão um novo sentido e direção à busca da verdade pela humanidade.
Seus ensinamento, além de serem relevantes à idade moderna, são atemporais e
universais.
Krishnamurti nunca foi um guru, não admitia seguidores e não falava como um guru, mas como um amigo. Suas palestras e discussões não são
baseadas num conhecimento tradicional, mas em seus próprios vislumbres sobre a
mente humana e sua visão do sagrado, portanto ele sempre transmite uma sensação
de frescor e clareza, apesar da essência de sua mensagem ter se mantido
inalterada através dos anos. Quando se dirigia a grandes audiências, as pessoas
sentiam que Krishnamurti estava falando com cada uma delas pessoalmente, sobre
seus problemas em particular. Em suas entrevistas privadas ele era um professor
compassivo, ouvindo atentamente o homem ou mulher que vinha a ele em sofrimento,
encorajando-os a curarem a si mesmo através do seu próprio entendimento.
Estudiosos de religião descobriram que suas palavras lançavam uma nova luz aos
conceitos tradicionais.
A educação foi sempre uma das preocupações de Krishnamurti. Fundou várias escolas
experimentais em diferentes partes do mundo e que existem até hoje, onde crianças, jovens e adultos pudessem
aprender juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o
mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de
florescimento interior.
Krishnamurti aceitou desafios de cientistas modernos e
psicólogos e os acompanhou passo a passo, discutindo suas teorias e, eventualmente,
capacitando-os a enxergar os limites dessas teorias.
Krishnamurti deixou um
imenso acervo em forma de discursos públicos, escritos, discussões com
professores e estudantes, com figuras religiosas e científicas, conversas com
indivíduos, entrevistas em televisão e rádio e cartas. Muito deste material foi
publicado como livros, áudio e vídeos.
Mais
informações sobre a vida de Krishnamurti podem ser encontradas nas biografias
escritas por Mary Lutyens e Pupul Jayakar.