Desde crianças ouvimos falar, popularmente, de
pessoas consideradas “geniais”, “habilidosas”, “talentosas”, “superdotadas” enfim, pessoas que se diferenciavam das demais por
apresentarem alguma, ou várias características extraordinárias, já
que incomuns.
Geralmente comentava-se que a pessoa tinha uma inteligência muito “alta”, o que a fazia sobressair, quando
comparada com as demais pessoas.
Tais comentários, na maioria das vezes, vinham
acompanhados de frases do tipo “todo gênio é meio louco”, “todo
cara muito inteligente é meio esquisito”, criando uma associação entre um
funcionamento cognitivo diferenciado e características atípicas de
personalidade da pessoa.
Isso tudo muito contribuiu para fazer das pessoas que apresentavam habilidades extraordinárias, pessoas consideradas
misteriosas, míticas, e, portanto, difíceis de convivência com os
demais, dado a seus interesses diferenciados.
Você teve alguma vivência desse tipo? Lembra-se de
algum colega de sala que se destacava dos demais? Que ideia sempre
fez da criança então chamada de “superdotada”?
Pois é... muitas coisas mudaram no âmbito do
conhecimento sobre pessoas com habilidades especiais, bem como as
práticas utilizadas em seu processo educacional.
Vamos, então, ver um pouco sobre essa história....
Reflexões Conceituais
Até o início do século XX não havia formas de se
quantificar atributos da inteligência, o que começou a se tornar possível
quando Alfred Binet, um psicólogo francês, desenvolveu a
primeira escala de desenvolvimento infantil. Milhares de crianças
foram observadas sistematicamente, possibilitando a identificação e a
descrição das tarefas que podiam ser desempenhadas em cada etapa do
desenvolvimento cronológico infantil.
Desta forma, a escala passou a constituir um
referencial descritivo do que se podia esperar de uma criança, com
desenvolvimento normal, em cada etapa de seu desenvolvimento. Passou,
também, a possibilitar que se avaliasse, através da observação
sistemática, se uma criança apresentava um desenvolvimento
estaticamente normal, em termos cronológicos, ou se seu desempenho era mais adiantado do que o esperado para a idade.
Em continuidade ao seu trabalho, Binet, associando-se
a Théodore Simon, construiu o conceito de idade mental,
informação derivada da contraposição das tarefas desenvolvimentais que
uma criança era capaz de cumprir, com sua idade cronológica.
Embora inicialmente utilizado para identificação de
crianças com menor desenvolvimento mental, aos poucos passou a
servir também para identificar as crianças que apresentavam uma
idade mental mais alta que as demais crianças da mesma idade.
Avançando no estudo da inteligência infantil, Lewis
M. Terman, educador e psicólogo norte-americano, reviu o instrumento
criado por Binet e publicou, juntamente com a Universidade de
Stanford, em 1916, a Escala de Inteligência Stanford-Binet. Terman
desenvolveu o conceito de QI (quociente de inteligência), índice que se
propunha sintetizar a quantificação da inteligência, através do
estabelecimento de uma relação entre a idade mental da criança e sua idade
cronológica (idade mental / idade cronológica x 100).
Como a ciência não para e se encontra em constante
processo de construção e produção de novos conhecimentos,
novas ideias e reflexões foram sendo produzidas sobre a questão da
inteligência.
Cientistas começaram a defender que as capacidades
intelectuais podiam e deviam ser medidas separadamente, e que um
único “score”, tal como o QI, não ajudava a identificar a
capacidade de desempenho da pessoa, em diferentes habilidades e
capacidades envolvidas com o comportamento inteligente.
J. P. Guilford
(1950, 1959, in
Hardman et al., 1993), por exemplo, “levou muitos pesquisadores a considerar a
inteligência como mais do que uma habilidade ampla e unitária. Ele viu a
inteligência como um conjunto diversificado de habilidades intelectuais e
criativas” (p. 378).
A partir do trabalho de Guilford e do de Torrance
(1961, 1965, 1968), o conceito de superdotação foi ampliado, passando a
incluir a criatividade e seus vários componentes, como por exemplo,
pensamento divergente, solução de problemas e a capacidade de tomada de
decisão.
Ainda mais recentemente, acrescentou-se ao conceito
de superdotação o termo talento, de forma que “indivíduos que
demonstram habilidades marcantes nas artes visuais ou nas artes
de representação, ou mesmo que excedem em outras áreas de desempenho,
podem igualmente ser designados como superdotados” (Hardman
et alii, 1993, pág. 379) .
Assim, foi-se gradativamente alterando a concepção de
superdotação, no sentido de ampliar sua significação.
Segundo Parcell (1978, in Hardman, 1993),
os termos “superdotado” e “talentoso” se refere a crianças e jovens,
identificados na pré escola, no ensino fundamental ou no ensino médio, como
possuidores de habilidades potenciais ou demonstradas, que
evidenciam alta capacidade de desempenho, em áreas tais como no desempenho intelectual, criativo, acadêmico específico ou habilidade de
liderança, ou nas artes de representação, artes de um modo geral
e que, por essa razão, necessitam de serviços ou atividades que
não são rotineiramente oferecidas pela escola (Seção 902)” (p. 379).
Renzulli (1978, in Hardman, 1993) foi pioneiro ao
apresentar a noção de que a superdotação era uma combinação de
conjuntos (conglomerados) interativos de comportamentos e que
uma pessoa não pode ser identificada como superdotada,
baseando-se em somente um desses conglomerados. Sua definição dizia
que: “a superdotação consiste de uma interação entre três conglomerados básicos de traços humanos - habilidades gerais acima
da média, altos níveis de compromisso com as tarefas que assume
e altos níveis de criatividade.
Crianças superdotadas e talentosas
seriam, então, aquelas que apresentam ou que são capazes de
desenvolver este conjunto integrado de traços, bem como de aplicá-los
a qualquer área potencialmente importante do desempenho humano.
Crianças que manifestam ou que são capazes de desenvolver uma
interação entre os três conglomerados requerem uma variedade
ampla de oportunidades e de serviços educacionais, normalmente não
oferecidos nos programas instrucionais regulares.” (p. 380).
Mais recentemente, outras novas concepções surgiram
na literatura sobre inteligência. Sternberg (1981, in Hardman, 1993)
propôs uma teoria triárquica sobre a inteligência humana, que
defende que o desempenho intelectual compreende três partes:
1. a inteligência analítica, apresentada por aqueles que mostram um bom desempenho em testes de aptidão e de inteligência;
2. a inteligência sintética, apresentada por pensadores não convencionais, que são criativos, intuitivos e apresentam alto nível de insight;
3. e a inteligência prática, apresentada por aqueles que lidam de forma extraordinariamente eficiente com os problemas da vida cotidiana, bem como com os problemas do ambiente de trabalho. (p. 380).
1. a inteligência analítica, apresentada por aqueles que mostram um bom desempenho em testes de aptidão e de inteligência;
2. a inteligência sintética, apresentada por pensadores não convencionais, que são criativos, intuitivos e apresentam alto nível de insight;
3. e a inteligência prática, apresentada por aqueles que lidam de forma extraordinariamente eficiente com os problemas da vida cotidiana, bem como com os problemas do ambiente de trabalho. (p. 380).
Em 1991, Ramos-Ford e Gardner propuseram uma nova
forma de considerar a inteligência, ou dotação, através de uma
teoria que tem sido mencionada como a teoria da inteligência
múltipla. Os autores definiram inteligência como uma habilidade, ou um
conjunto de habilidades, que permite a um indivíduo resolver problemas ou
fenômenos que são característicos de um momento ou de um
contexto cultural específicos, ou que são deles consequentes.
Como se pode perceber, a concepção de inteligência
foi se ampliando no decorrer do tempo, com implicações importantes
para a prática educacional, e mais especificamente, para a prática
pedagógica do professor, em sala de aula, especialmente no que se refere à
identificação das necessidades educacionais especiais do aluno e ao
seu ensino.
A Secretaria de Educação Especial do MEC adota o seguinte
conceito por ser abrangente como “altas habilidades/superdotados
ou talentosos os educandos que apresentarem notável desempenho ou
elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos
isolados ou combinados:
1. capacidade intelectual geral,
2. aptidão acadêmica específica,
3. pensamento criativo-produtivo,
2. aptidão acadêmica específica,
3. pensamento criativo-produtivo,
4. capacidade de liderança,
5. talento especial para artes
5. talento especial para artes
6. e
capacidade psicomotora”.
Fonte: Projeto Escola Viva - Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial
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