Para entender o significado
e a importância das altas habilidades, apresentamos algumas concepções segundo
os autores Joseph Renzulli, Howard Gardner e Robert Sternberg, que são os
teóricos mais referenciados nas pesquisas desta área. Apresentamos um panorama nacional
sobre as altas habilidades estudando também alguns pesquisadores brasileiros.
Encerramos o capitulo incluindo uma seção sobre a importância de reconhecer um superdotado
e como fazer essa identificação.
1 - Joseph Renzulli
Joseph S. Renzulli é
professor de Psicologia da Educação da Universidade de Connecticut, onde também atua como diretor do Centro Nacional no Gifted and
Talented Research.
Sua pesquisa centrou-se na identificação e desenvolvimento
de criatividade e talento nos jovens e nos modelos organizacionais e
estratégias curriculares para melhora total da escola. Um foco de seu trabalho
tem sido na aplicação das estratégias de educação de superdotados para a melhoria da aprendizagem para todos os alunos. Ele é membro
da Associação Americana de Psicologia e foi consultor para a Força-Tarefa da
Casa Branca sobre Educação do Gifted and Talented.
Renzuli (apud Pérez, 2008)
define que:
“O comportamento de superdotação consiste nos comportamentos que refletem uma interação entre os três grupamentos básicos dos traços humanos - sendo esses grupamentos habilidades gerais e/ou específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e elevados níveis de criatividade. As crianças superdotadas e talentosas são aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços e que os aplicam a qualquer área potencialmente valiosa do desempenho humano”. (1986, p. 11-12)
“O comportamento de superdotação consiste nos comportamentos que refletem uma interação entre os três grupamentos básicos dos traços humanos - sendo esses grupamentos habilidades gerais e/ou específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e elevados níveis de criatividade. As crianças superdotadas e talentosas são aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços e que os aplicam a qualquer área potencialmente valiosa do desempenho humano”. (1986, p. 11-12)
E habilidade acima da média:
“pessoas que são capazes de ter um desempenho ou um potencial de desempenho que seja representativo dos 15 a 20% superiores de qualquer área determinada do esforço humano”.( Renzuli, 1986, p. 8, apud Pérez, 2008).
“pessoas que são capazes de ter um desempenho ou um potencial de desempenho que seja representativo dos 15 a 20% superiores de qualquer área determinada do esforço humano”.( Renzuli, 1986, p. 8, apud Pérez, 2008).
O pesquisador Joseph Renzulli criou três anéis para representar como acontece
os comportamentos de superdotados. Um dos anéis representa a habilidade acima
da média; outro seria a motivação e o terceiro a criatividade.
Nessa concepção
dos Três Anéis de Renzulli, um superdotado pode ser representado graficamente
como a intersecção de três anéis:
Representação gráfica da Superdotação, segundo Renzulli (1986, p. 8, apud
Santos e Peripolli, 2001)
Passamos a detalhar cada elemento do diagnóstico. A habilidade acima da média refere-se
aos comportamentos observados, relatados ou demonstrados que confirma a expressão
de traços superiores em qualquer campo do saber ou do fazer. Alunos com capacidades
acima da média têm como características marcantes possuir uma grande bagagem de
informações sobre um tópico especifico; facilidade para lembrar informações; possuir
perspicácia em perceber relações de causa e efeito; a presença de um
vocabulário avançado para a idade. A capacidade acima da média pode ser de duas
formas:
• Capacidade Geral - Consiste na capacidade de processar informações, integrar
experiências que resultem em respostas adequadas e adaptadas a novas situações
e a capacidade desenvolver-se no pensamento abstrato. Está representada pelo
raciocínio verbal e numérico, pelas relações espaciais, pela memória e fluência
verbal, pela fácil adaptação e reestruturação de situações novas, pela
automatização do processamento das informações e pela recuperação rápida,
precisa e seletiva das informações. Geralmente, a capacidade geral é a mais
valorizada na escola.
• Capacidade Específica - se referem à habilidade de adquirir conhecimento ou a
habilidade de desempenhar uma ou mais atividades especializadas, não em
situações de teste, mas em situações da realidade; consistem na habilidade de
aplicar várias combinações das habilidades gerais a uma ou mais áreas
especializadas do conhecimento ou do desempenho humano, adquirindo um grande
volume de conhecimento formal, técnicas, logística e estratégias, que utiliza
apropriadamente na busca de problemas ou em áreas especializadas, tendo também uma capacidade de classificar as informações importantes
associadas a esse problema ou área.
“Estas habilidades específicas são definidas de uma forma que representa as maneiras como os seres humanos se expressam em situações da vida real”. (RENZULLI; REIS, 1997, p. 6 apud Pérez, 2008).
São exemplos a dança, química, fotografia, física quântica, liderança, composição musical, administração, habilidade em áreas lógico-matemáticas. Quando a área de habilidade específica requer um alto conhecimento lógico-matemático, pode demonstrar grandes escores nos testes de QI já que esta habilidade está relacionada com a capacidade geral.
Assim, quando Renzulli usa o
termo “capacidades acima da média”, ele se refere a ambos os tipos de
capacidades, sejam gerais ou específicas, que deve ser interpretado como o domínio
superior do potencial em alguma área específica.
Desta forma, o termo se refere
a pessoas que possuem a capacidade já desenvolvida ou o potencial para
desenvolver habilidades em alguma área do desenvolvimento.
A criatividade é o conjunto de comportamentos visíveis por intermédio da demonstração de traços criativos no fazer e no pensar, expressos em diferentes
linguagens, tais como: falada, gestual, plástica, teatral, matemática, musical,
filosóficas ou outras. A pessoa criativa costuma apresentar fluência; flexibilidade
e originalidade de pensamento; abertura à experiência, ao novo e ao diferente
(mesmo quando irracional) no pensamento, ações e produtos; é curiosa,
especulativa, aventureira, e mentalmente brincalhona; tem disposição para correr riscos no pensamento e na ação; é sensível a detalhes e características
estéticas das ideias e das coisas; tem disposição para agir e reagir a
estímulos externos e às próprias ideias e sentimentos; demonstra atitude não
conformista, não temendo ser diferente; possui uma imaginação produtiva.
Renzulli refere, em muitas pesquisas, que as pessoas selecionadas para
participar de um estudo intensivo eram aquelas reconhecidas pelas suas práticas
criativas, pela presença de dimensões de criatividade como a originalidade do
pensamento, a capacidade de deixar de lado convenções e procedimentos
estabelecidos, quando adequado; e talento para idealizar realizações afetivas e
originais.
A motivação é a energia que uma pessoa coloca para realizar uma ação em relação a uma determinada tarefa ou área específica, comumente associada à
perseverança, paciência, grande esforço, dedicação, autoconfiança e à crença na
própria capacidade para executar um trabalho importante. Esta é uma
característica frequentemente encontrada em pessoas que apresentam
comportamento de superdotação.
O aluno demonstra obstinação em procurar informações sobre tópicos de seu interesse; persistência; comportamento que requer pouca orientação dos professores.
A pessoa altamente comprometida com a tarefa tem capacidade de manifestar
níveis elevados de interesse, entusiasmo, fascinação, envolvimento num
determinado problema ou área, tem um forte ego e tem um intenso direcionamento
para alcançar certos objetivos. Tem capacidade de identificar problemas
significativos em certa(s) área(s) e de sintonizar os canais de informação mais
importantes e os novos descobrimentos de um campo. O comprometimento com a tarefa também leva a pessoa a estabelecer padrões elevados para seu trabalho, mantendo a abertura à autocrítica e à crítica, desenvolvendo
um senso estético, de qualidade e excelência em relação a seu trabalho e ao dos
outros.
Segundo Renzulli, nenhum traço é mais importante que o outro, todos os três traços merecem a mesma atenção. Os testes de inteligência para avaliar as AH/SD privilegiam o desempenho acadêmico, não levando em conta pessoas que,
embora não tendo escores superiores nestes testes, os compensam com os altos
níveis de comprometimento com a tarefa e criatividade; essas pessoas poderão
fazer grandes contribuições nos seus campos de atuação.
Quanto à criatividade e ao comprometimento com a tarefa, podemos afirmar que são
mais variáveis do que permanentes; estes anéis podem ter diversos graus e
intensidade e não podem ser avaliados da mesma forma que a habilidade acima da
média, principalmente, porque as pesquisas com pessoas que demonstram alto
desempenho têm verificado a existência de períodos de intensa manifestação e
períodos de inatividade, tanto da criatividade quanto do comprometimento com a
tarefa (RENZULLI, 1986 apud Pérez, 1 Altas Habilidades/Superdotação 2008).
Esses dois grupamentos quase sempre se estimulam mutuamente; tanto a ideia criativa
pode acionar o comprometimento com a tarefa como esse envolvimento pode disparar
o processo de solução criativa de problemas.
O comprometimento com a tarefa pode ser um aspecto difícil de identificar em contextos socioeconômicos e culturais desfavorecidos, nos quais não existam
condições reais de manifestá-lo. Como no caso de crianças ou adolescentes que
colaboram no sustento de suas famílias, por exemplo, e não têm tempo disponível
para demonstrar esse comprometimento da mesma forma que uma criança ou
adolescente que não trabalha o faria (PÉREZ,2004b).
Como postula Alencar (1995) apud Pérez (2008), é importante ressaltar que a criatividade pode ser bloqueada ou não ter tido a oportunidade de ser desenvolvida
por motivos internos ou externos, que podem compreender ambientes muito
restritivos, condições socioeconômicas ou culturais muito precárias, padrões
culturais limitadores, ambiente familiar muito autoritário, falta de
autoconfiança ou qualquer outra barreira imposta à manifestação da
criatividade.
Renzulli classifica dois tipos de superdotação: a superdotação escolar ou
acadêmica e a superdotação produtivo-criativa. A superdotação acadêmica é o
tipo mais facilmente detectado pelos testes padrões de capacidade e, assim, o
tipo mais convenientemente utilizado para os programas especiais. É principalmente
contemplado o anel da capacidade acima da média. As competências que os jovens
apresentam nos testes de capacidade cognitiva são as mais valorizadas nas
situações de aprendizagem tradicional da escola, focalizando nas aprendizagens analíticas. Pesquisas mostram uma elevada
correlação entre superdotação acadêmica e a probabilidade de obter notas altas
na escola (Renzulli, 1999- 2004). A superdotação produtivo-criativa geralmente
se destaca por ser mais questionadora; extremamente imaginativa; inventiva e
dispersiva quando a tarefa não lhe interessa; não aprecia a rotina e tem formas
originais de abordar e resolver problemas. Ele usa mais o pensamento divergente
e isso dificulta sua adaptação em sala de aula e sua avaliação.
“A ideia da superdotação produtivo-criativa e da Concepção de Superdotação dos
Três Anéis surgiu de uma ampla gama de pesquisas sobre a natureza das
habilidades humanas que revisei (RENZULLI,1978, 1982b, 1986), assim como de
numerosos estudos de caso sobre pessoas com realizações incomuns (jovens e
adultos), que não teriam sido identificadas ou atendidas em programas especiais
se confiássemos somente nos escores de testes de capacidade cognitiva”.
(Renzulli, 2004)
2 - Howard Gardner
Howard Gardner é um
psicólogo e professor norte americano que revolucionou a psicologia cognitiva
com sua teoria das inteligências múltiplas, inovando a ideia que a inteligência
seria a capacidade ou potencial que cada ser humano possui em maior ou menor extensão.
Segundo ele:
“Passei a considerar a inteligência um potencial biopsicológico de processar informações de determinadas maneiras para resolver problemas ou criar produtos que sejam valorizados por, pelo menos, uma cultura ou comunidade. Mais
coloquialmente, considerava a inteligência como um computador mental
configurado de forma especial.
Enquanto a teoria padrão sobre a inteligência
postulava um computador multiuso, que determinava as melhores habilidades da
pessoa dentro de um espectro de tarefas, a teoria das IM postulava um
conjunto de dispositivos de informática. (Inteligências Múltiplas, 2010)
A partir dessa Perspectiva biopsicológica de Gardner, Luiz Carlos Panisset
explica o fato de um indivíduo ser ou não considerado inteligente e em que
aspectos é um produto de sua herança genética e de suas propriedades
psicológicas, variando de seus poderes cognitivos às suas disposições de
personalidade. (Revista De Biologia e Ciências da Terra – 2001)
Gardner explica que conseguiu observar que existia indivíduos com múltiplas inteligências porque havia trabalhado em dois centros de pesquisas. Em um
estudava pessoas que haviam sofrido algum dano cerebral, e no outro tratava de
questões de desenvolvimento humano e cognição principalmente nas artes. Segundo
ele, se não tivesse tido a oportunidade de trabalhar com essas crianças –
superdotadas, normais e que sofreram dano cerebral – nunca teria concebido essa
teoria. Continuaria a crer que na existência da inteligência, que nos permite a
fazer algo mais ou menos bem, dependendo do quanto inteligente somos.
Partindo desta ideia, do quão inteligente uma pessoa é, em 1900 o psicólogo francês
Alfred Binet foi solicitado que desenvolvesse uma medida de predição do sucesso
escolar de crianças das primeiras séries. Desta forma surgiu o primeiro teste
de inteligência. Tal teste tinha por finalidade geral diferenciar o grau de
inteligência. Após a I Guerra Mundial, onde o teste de Q.I. (Quociente
Intelectual) foi utilizado para medir a inteligência dos soldados, tornou-se
muito popular sua aplicação. Com a popularização do teste, propagou-se a ideia de
inteligência nele inserida. A inteligência seria única, estagnada, estática, passível de
ser medida quantitativamente.
Durante o século XX, vários psicólogos e cientistas de outras áreas do conhecimento
fizeram fortes críticas aos testes de Q.I. E com a teoria das inteligências
múltiplas de Gardner podemos entender tais críticas, pois esses testes não
avaliam certas inteligências.
Gardner baseou-se nas
pesquisas em desenvolvimento cognitivo e neuropsicológico que sugerem que as
habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e específicas, para questionar
a tradicional visão da inteligência, que enfatiza as habilidades linguística e
lógicomatemática.
Ele sugere que não existem habilidades gerais e duvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis. Considera de grande importância
as diferentes atuações valorizadas em diversas culturas.
Gardner identificou as inteligências linguística, lógico-matemática, espacial,
musical, cinestésica, interpessoal, intrapessoal, adicionando posteriormente a
inteligência naturalista e por fim a inteligência existencial ou espiritual. Postula que essas competências intelectuais são
relativamente independentes, têm sua origem e limites genéticos próprios e
substratos neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos
próprios. Segundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma
das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas
e criar produtos.
Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até
certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam
isoladamente. Apesar de algumas profissões especificarem uma inteligência
principal, na maioria dos casos existe a necessidade de uma combinação de
inteligências. Por exemplo, um cirurgião necessita da perspicácia da
inteligência espacial combinada com a agilidade da cinestésica.
Para Gardner, 1999 (apud Pérez, 2008), as inteligências não são objetos que se possam
contabilizar, mas potenciais que podemos ativar de acordo com o contexto social e cultural
de cada indivíduo, no qual as oportunidades oferecidas a ele, os valores e as decisões
pessoais e de sua família têm um papel fundamental em tal ativação.
Gardner, 2006 (apud Zylberberg e Nista-Piccolo, 2008) afirmou que o número de inteligências
é menos importante do que a premissa de que há uma multiplicidade delas e que
cada ser humano tem um mistura única, ou perfil único de pontos fortes e pontos
fracos nas inteligências. Contudo, a existência desses pontos fortes não
determina a existência de pontos fracos (e vice-versa). Ou seja, ter um ponto
forte em um deles não significaria força ou fraqueza em outro.
Para Gardner:
“Não deveríamos pensar nas inteligências como envolvidas numa situação de soma zero: nem deveríamos tratar da teoria das inteligências múltiplas como um modelo hidráulico, onde um aumento em uma inteligência necessariamente impõe o decréscimo em outra”. (1994, p. 278, apud Zylberberg e Nista-Piccolo )
“Não deveríamos pensar nas inteligências como envolvidas numa situação de soma zero: nem deveríamos tratar da teoria das inteligências múltiplas como um modelo hidráulico, onde um aumento em uma inteligência necessariamente impõe o decréscimo em outra”. (1994, p. 278, apud Zylberberg e Nista-Piccolo )
Questionado em como chegou a formulação das inteligências múltiplas, Gardner disse
que partir dessa visão de pontos fortes ou fracos estabeleceu nove critérios
diferentes para o que pode ser classificado como inteligência. Para isso, levou
em conta tanto a existência de partes do cérebro que processam informações
específicas, como música ou números, quanto o fato de que existem parcelas da
humanidade com habilidades ou fraquezas específicas.
“É o caso dos prodígios, em qualquer área de atividade, ou, no outro extremo,
os portadores de autismo. Esses indivíduos se fecham num universo próprio, mas
mantêm uma memória extraordinária, assim como uma enorme habilidade especifica.” (Gardner - Superinteressante 133ª, 1998)
Assim Gardner chegou à conclusão da existência de 9 inteligências. Passamos a analisar cada uma delas.
1 - Inteligência Linguística - É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias. Se manifesta através da fala, leitura, escrita e escuta. O dom da linguagem é universal e seu desenvolvimento é constante em todas as culturas. Podemos dar como exemplo os poetas, escritores, advogados (GARDNER, 1995).
Em crianças, esta habilidade se manifesta através da
capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão,
experiências vividas.
Em geral, também encontramos este tipo de inteligência
nos redatores, roteiristas, oradores, líderes políticos e jornalistas.
Personalidades famosas na área: William Shakespeare; Machado de Assis; Luís Fernando Veríssimo; Clarisse
Lispector; Abraham Lincoln.
2 - Inteligência Lógica-matemática - É a facilidade em lidar com números e com cálculo matemático. Se manifesta na solução de problemas e no desenvolvimento de raciocínios dedutivos. Como exemplo, podemos citar engenheiros, físicos, matemáticos (GARDNER, 1995).
Os componentes centrais desta inteligência são caracterizados por uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. Essa inteligência possui agilidade para explorar relações através da manipulação de objetos ou símbolos. Sentem necessidade de comprovação, e assim são relutantes em aceitar “leis” ou regras.
A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar
notações práticas de seu raciocínio.
Personalidades famosas na área: Albert
Einstein; Bill Gates; Marie Curie; Gertrude Belle Elion; Thomas Edison; Johannes
Kepler.
3 - Inteligência Espacial - É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar composições, numa representação visual ou espacial.
Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa, como é o caso da grande facilidade de se localizar geograficamente e/ou encontrar um caminho ou rota, mesmo nas condições mais adversas, como no escuro ou em meio a uma tempestade. É necessária na navegação e no sistema notacional de mapas.
Decoradores, cenógrafos, geógrafos, marinheiros, pilotos, artistas plásticos e em geral, engenheiros e arquitetos possuem essa manifestação evidenciada.
Em crianças pequenas, o
potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade para
quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais.
Personalidades famosas na área: Oscar Niemeyer; Mauricio de Souza; Pablo Picasso; Leonardo Da Vinci; Vincent Van Gogh.
4 - Inteligência Corporal-cinestésica - É a habilidade para usar a coordenação em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. Esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo.
Podemos observar essa
habilidade em bailarinos, atletas, cirurgiões, contorcionistas, trapezistas e principalmente em praticantes de esportes raciais (GARDNER, 1995).
A criança especialmente
dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão a partir de
estímulos musicais ou verbais demonstra uma grande habilidade atlética associada a um alto poder de concentração e de trabalhar com as emoções ou uma
coordenação fina apurada.
Personalidades famosas na área:
Jim Carrey; Michael Jordan.
5 - Inteligência Musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Se manifestada nas diferentes formas de expressar sons naturais, musicais, na facilidade em utilizar instrumentos musicais, na distinção de timbres, melodias, tons, ritmos e frequências sonoras.
São percebidos
principalmente em maestros, compositores e músicos em geral (GARDNER, 1995).
A criança pequena com habilidade
musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente,
canta para si mesma.
Personalidades famosas na
área: Stravinsky; Beethoven; Stevie Wonder; Leonard Bernstein; Bach.
6 - Inteligência Interpessoal (ou de Liderança) - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Manifesta-se no relacionamento com os outros, na percepção e compreensão pela distinção das sensações alheias (humor, motivação). Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção.
Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Podemos observá-la em psicoterapeutas, professores, lideres políticos, conselheiros, advogados, treinadores, executivos, e artistas tais como: atores, comediantes, etc.
Personalidades famosas na
área: Hitler, Gandhi, Martin Luther King Jr, Winston Churchill, Kennedy.
7 - Inteligência Intrapessoal - É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Se manifesta no autocontrole, no conhecimento dos próprios limites, em estar bem consigo mesmo, na administração de suas próprias sensações. Para Gardner (1995), uma das mais maravilhosas invenções humanas é o senso do “eu”, uma característica observada em psicólogos, assistentes sociais, etc. Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações linguísticas, musicais ou cinestésicas.
Alguns exemplos de
profissões para pessoas com este perfil são psicólogos, escritores, filósofos, programadores de computador, etc.
Personalidades famosas na área: Bill Gates, Freud, Platão.
8 - Inteligência Naturalística - Consiste na capacidade em reconhecer padrões na natureza, identificar e classificar objetos e as numerosas espécies, compreender sistemas naturais e aqueles criados pelo homem. Gardner acrescentou a inteligência naturalista em 1996, descrevendo o naturalista como um indivíduo apto para reconhecer flora e fauna, fazendo distinções relativas ao mundo natural e para usar essa habilidade produtivamente na agricultura ou nas ciências biológicas. Segundo Gardner “A inteligência do naturalista é tão arraigada como as outras inteligências.
Há, para começar, as capacidades essenciais para reconhecer exemplos como membros de um grupo (mais formalmente, de uma espécie); para distinguir entre os membros de uma espécie; para reconhecer a existência de outras espécies próximas; e para mapear as relações, formal ou informalmente, entre as várias espécies. Evidentemente a importância de uma inteligência naturalista está bem comprovada na história evolucionária, onde a sobrevivência de um organismo depende de sua habilidade de distinguir entre espécies semelhantes, evitando algumas (predadoras) e investigando outras (para servir de presa ou brinquedo). A capacidade do naturalista se apresenta não só nos primatas evolucionariamente próximos dos seres humanos; as aves também podem discernir as diferenças entre espécies de plantas e animais (inclusive diferenças que não existam em seu ambiente esperado, ‘normal’) e até reconhecer as formas humanas numa fotografia”. (Gardner, 2000, p. 65,66).
A inteligência naturalista está presente em indivíduos envolvidos em causas ecológicas, como os ambientalistas, geógrafos, zoólogos, veterinários, biólogos, botânicos, etc.
Personalidades famosas na área: José Lutzenberger, Orlando Villas Bôas; Charles Darwin; Jacques Cousteau; Gregor Mendel.
9 - Inteligência Existencial (ou Espiritual) – É de todas as inteligências definidas por Gardner a mais nova e objeto de muitos estudos. Ela é responsável pela
necessidade do homem fazer perguntas sobre si mesmo, sua origem e seu fim. A
inteligência existencial, como Gardner a caracteriza, envolve uma capacidade
ampliada de apreciar e considerar os enigmas cosmológicos que definem a condição
humana, uma consciência excepcional dos mistérios ontológicos, metafísicos e epistemológicos
que têm sido uma preocupação inacabável para povos de todas as culturas.
É uma inteligência que está presente nos líderes espirituais e nos pensadores filosóficos, como por exemplo Jean-Paul Sartre, Jidu Krishnamurti e Dalai Lama.
3 - Robert Sternberg
Robert Sternberg é um
psicólogo graduado pela Yale University e possui um Ph.D. da Stanford University. Possui nove títulos de doutor honoris causa, sendo
um de uma universidade sul-americana e oito de universidades europeias e
adicionalmente é professor honorário da Universidade de Heidelberg na Alemanha.
Sternberg desenvolveu a teoria triádica de inteligências entre as décadas de 80
e 90.
Para ele, os testes de QI não são válidos para medir o tipo de inteligência exigida
para o sucesso na vida real, como por exemplo, para a carreira profissional de
uma pessoa. Para Sternberg, o comportamento inteligente é muito amplo, não
sendo passível de ser medido da forma tradicional.
Segundo Sternberg o comportamento inteligente abrange três fatores:
- habilidades de processamento da informação;
- experiência com uma dada situação ou tarefa;
- e a habilidade de moldar o próprio comportamento para se adaptar às demandas do contexto.
A teoria triádica da
inteligência humana procura explicar, numa perspectiva de integração, a relação entre inteligência e mundo interno do indivíduo, ou seja,
os mecanismos mentais subentendidos no comportamento inteligente; inteligência
e experiência, ou seja, o papel mediador da experiência de vida entre os mundos
interno e externo do indivíduo; e o emprego destes mecanismos mentais na vida
quotidiana de se ajustar ao meio.
A criança que se destaca por
sua inteligência analítica é aquela que, em geral, o professor gosta de ter em
sala de aula: tira boas notas, aprende com facilidade e com pouca repetição,
tem facilidade em analisar as ideias, pensamentos e teorias. Gosta de ler e
muitas vezes aprende sozinha ou com pouca instrução. A escola reforça as
habilidades analíticas de seus alunos, acentuando a memorização e reprodução
dos conhecimentos, muitas vezes em detrimento da aplicação e do ensino de
técnicas para o desenvolvimento do pensamento criador. Assim é que a pessoa
essencialmente analítica muitas vezes carece de ideias novas e originais e pode
ter dificuldade em um ambiente que exija respostas diferentes e incomuns.
Já a criança que se destaca
por suas habilidades de pensamento criativo apresenta, em geral, talentos e
dificuldades opostas. A pessoa com inteligência criativa nem sempre tem as melhores
notas e nem sempre se destaca na escola por suas habilidades acadêmicas. No entanto,
demonstra grande imaginação e habilidade em gerar ideias interessantes e criatividade
na forma de escrever ou falar e de demonstrar suas aptidões e competências.
Essa criança tende a ter independência de pensamento e de ideias, a ver humor
em situações que nem sempre os outros percebem como tal e são muitas vezes
consideradas o “palhaço da turma”.
A terceira forma de ser
inteligente, conforme Sternberg, leva em consideração a facilidade da criança
em se adaptar ao ambiente e desempenhar atividades que são adequadas para o
desenvolvimento de uma tarefa. A criança demonstra inteligência prática e senso
comum, sendo capaz de chegar em qualquer ambiente, fazer um levantamento do que
é necessário para atingir algum objetivo prático, e executar sua tarefa com
precisão.
À medida que ganha experiência de vida, a pessoa prática demonstra esta
inteligência com mais intensidade, o que a permite lidar com as pessoas e
conseguir que um determinado trabalho seja executado, percebendo o que funciona
e o que não funciona. É a inteligência prática ou conhecimento tácito que, no
contexto de vida prática, é responsável pela melhor adaptação da pessoa ao
ambiente e para o sucesso no mundo real, principalmente no desempenho
profissional.
Para melhor explicar sua teoria, Sternberg utiliza Alicia, Bárbara e Célia,
três alunas de pós-graduação, para exemplificar diferentes perfis de inteligência.
Alicia representa uma excelente aluna: ótimas notas nos testes de admissão ao
programa, excelente desempenho em sala de aula, realizando com excelência todas
as tarefas acadêmicas exigidas no curso. Mas, embora Alicia tenha sido bastante
competente em analisar as ideias dos outros, lhe faltava a habilidade de criar
e desenvolver ideias novas e originais, que era exigido após o segundo ano na
pós graduação. Assim Alicia deixou de se destacar como antes.
Não é suficiente
saber como criticar as ideias que outros propuseram. É necessário que se
desenvolva novos recursos que servem para definir ideias. A habilidade não
poderia ser inferida a partir do registro de admissão de Alicia, uma vez que as
medidas de admissão convencionais nos dão uma boa descrição das habilidades
analíticas, mas não fornecem nenhuma indicação da criatividade.
Bárbara, na sua vez, exibia outra forma de ser inteligente: suas notas de
admissão ao programa eram medianas. Trazia boas cartas de recomendações de
professores anteriores, que a definiram como criativa e original e havia
desenvolvido investigações criativas sem ajuda ou orientação. Alunos como
Barbara podem não se destacar na graduação, mas se tornam bons alunos, com excelentes capacidades de pesquisas na pós-graduação. Barbara não
tinha a capacidade analítica de Alicia, mas sobressaiu pela sua criatividade e
originalidade.
Célia não demonstrava as habilidades analíticas de Alice nem a criatividade de
Bárbara; no entanto, conseguiu notas suficientes para entrar para o programa de
pós graduação.
Célia era especialista em compreender e em se adaptar às
demandas do ambiente. Célia era capaz de chegar em qualquer ambiente, fazer um
levantamento do que era necessário para atingir algum objetivo prático, e
executar sua tarefa com precisão. Ela sabia como lidar com as pessoas e como
conseguir que um trabalho fosse feito; sabia o que funcionava e o que não
funcionava.
Em outras palavras, ela tinha uma inteligência prática ou conhecimento tácito
que, no contexto de vida prática, se revela fundamental.
Usando esse tipo de analogia, Sternberg nos faz ver que diferentes situações
exigem diferentes tipos de inteligência.
Ao valorizar mais o tipo de
inteligência analítica, a escola subestima a capacidade de um grupo maior de
estudantes de obter êxito nas situações reais da vida, que exigirão respostas
criativas e de bom senso para resolver os problemas colocados pelo mundo
contemporâneo. Da mesma forma, os tradicionais testes de inteligência poderão ser
bons preditores do êxito acadêmico, mas terão pouco impacto na predição do sucesso
na vida prática e no ambiente de trabalho.
Conclui Sternberg que os tradicionais testes de inteligência poderão ser bons preditores de sucesso do aluno na sua vida acadêmica, mas terão pouco impacto
na predição do sucesso na vida prática e no ambiente de trabalho, que exigirão
outras formas de inteligência não abarcadas pelos testes.
Esse modelo, juntamente com a teoria das inteligências múltiplas de Gardner pressupõem a estreita inter-relação entre processos cognitivos, emotivos e conativos.
Portanto, os processos de Sternberg podem ser aplicados às inteligências
citadas por Gardner.
4 - Autores do Brasil
Partindo das concepções de
Renzulli, Gardner e Sternberg temos alguns autores que se destacam aqui no
Brasil por abordarem superdotação em seus trabalhos. Inclusive guiam e desenvolvem
materiais para o MEC sobre o assunto.
Eunice Maria Lima Soriano de Alencar
Começamos por Eunice Maria
Lima Soriano de Alencar, que é especialista renomada na área de criatividade e
superdotação.
Realizou seu doutorado em Psicologia na University of Purdue e seu pós-doutorado no Gifted Education Resource, ambos nos Estados Unidos.
Para Alencar devemos desfazer ideias errôneas sobre a superdotação. Começamos pela definição de um aluno de altas habilidades. Para Alencar, a superdotação causa muito espanto, a própria palavra “superdotação” carrega um significado que se espera algo extraordinário e grandioso.
Seguindo esse raciocínio, podemos
constatar, no
cotidiano, o uso das palavras superdotado ou altas habilidades como sinônimo de gênio. Os exemplos lembrados para exemplificar pessoas superdotadas são de
Mozart, Picasso, Einstein, Leonardo da Vinci, entre outros verdadeiros gênios,
que revolucionaram seus respectivos campos de atuação. Contudo, o aluno não precisa ser
um gênio para ser classificado como superdotado. Dentro dessa visão, muitos
pais negam ou questionam quando seus filhos são convidados a participarem de um
programa de atendimento a alunos com altas habilidades.
Segundo a Alencar, outra ideia errônea é que um aluno de altas habilidades tem que
apresentar um ótimo desempenho escolar, destacando-se como o melhor da classe.
Muitos fatores podem interferir, como o método de ensino utilizado, baixa expectativa
do professor, a pressão dos colegas ou dos pais, ambiente escolar pouco
estimulante, necessidade de ser aceito pelos colegas, etc.
Alencar também destaca que o aluno com altas habilidades precisa de um atendimento especial, ao contraponto do que se comumente acredita (aluno
superdotado é mais inteligente, e portanto tem mais facilidade de aprender, não
necessitando de um atendimento especial). Segundo a autora muitos deles têm
baixo desempenho graças ao seu contexto. Visto isso, é necessário propiciar um
ambiente favorável ao seu desenvolvimento.
“Especialmente relevante é a promoção de uma variedade de experiências de
aprendizagem enriquecedoras, que estimulem o seu desenvolvimento e favoreçam a
realização de seu potencial. Também necessário é que se
respeite o seu ritmo de aprendizagem.” (Brasil, 2007, pg. 17)
respeite o seu ritmo de aprendizagem.” (Brasil, 2007, pg. 17)
Nota-se que o ensino regular é direcionado para o aluno médio e abaixo da
média, deixando de atender as necessidades de um aluno superdotado e com altas habilidades.
Segundo Alencar, muitas crianças superdotadas têm sido penalizadas com poucas
oportunidades de desenvolver suas habilidades superiores, principalmente pela
limitação de suas famílias e de um ensino de qualidade. Mesmo assim, é
frequente a posição defendida por professores e gestores educacionais de que seria um absurdo, na existência de muitos alunos com
distúrbios e deficiências diversas, investir em programas de alunos com altas
habilidades. Porém, não se deve deixar de atender os alunos que sobressaem
pelas suas inteligências; o sistema deve atender ambos, de forma diferenciada,
suprindo a necessidade de cada um.
Denise de Souza Fleith
Denise de Souza Fleith
Denise de Souza Fleith é pesquisadora e psicóloga e possui doutorado em Psicologia Educacional pela University of Connecticut (1999). Realizou seu pós-doutorado no National Academy for Gifted and Talented Youth (University of Warwick) (2005). Suas áreas de interesse são criatividade no contexto escolar, medidas de criatividade, processos de ensino/aprendizagem, desenvolvimento de talentos e superdotação e psicologia escolar. Fleith e Alencar argumentam sobre o pensamento de que o superdotado não necessitaria de um atendimento especial:
“Tal ideia seria responsável pela consideração do superdotado como um privilegiado, que apresentaria recursos intelectuais inatos superiores, considerando-se injusto e antidemocrático oferecer-lhe mais privilégios sob
a forma de participação em programas educacionais especiais, nos quais os demais alunos seriam excluídos.” (p.53, 2006).
Susana Graciela Pérez Barrera Pérez
Susana Graciela Pérez Barrera Pérez é Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. É presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação, do qual também foi sócia-fundadora; membro do Conselho Técnico da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação e delegada pelo Brasil perante a Federação Ibero-Americana de World Council for Gifted and Talented Children.
Para que a representação cultural das altas habilidades deixe de ser uma
miscelânea de preconceitos, mitos e crenças populares e o superdotado passe a
ser respeitada na suas diferenças, Perez (2008) recomenda que, como educadores,
temos que promover o reconhecimento, a aceitação e a valorização das AH/SD e da
PAH/SD, nela própria, na família, na escola e na sociedade. Para isso, autora
descreve como necessários a capacitação dos
professores, o compromisso dos órgãos públicos e privados vinculados à educação, assim como à saúde, ao trabalho e ao lazer; e a sensibilização da imprensa e dos formadores de opinião.
professores, o compromisso dos órgãos públicos e privados vinculados à educação, assim como à saúde, ao trabalho e ao lazer; e a sensibilização da imprensa e dos formadores de opinião.
Segundo Pérez todos os cidadãos são diferentes entre si e têm o direito de ser assim, e “Isto
não implica privilégios maiores, mas sim necessidades diferenciadas.
Educar crianças com AHs para serem cidadãos exige a consciência dos mesmos
princípios básicos de justiça, respeito e liberdade – direitos e deveres que
devem ser ensinados a todas as crianças para promover a convivência sadia com
seus pares.” (Revista Educação, ed. 2003 - N° 22)
Na verdade o atendimento especial para crianças com altas habilidades serve
também para suprir algumas necessidades dessas pessoas, tornando-os cidadãos da mesma maneira
que os outras.
Angela Mágda Rodrigues Virgolim
Angela Mágda Rodrigues Virgolim
A psicóloga Angela Mágda Rodrigues Virgolim possui doutorado em Educational Psychology pela University of Connecticut, EUA (2005), especializando-se em Psicologia da Superdotação pelo National Research Center on Gifted and Talented. Foi sócia fundadora e primeira presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação - ConBraSD. Tem experiência na área de Psicologia Escolar e Psicologia Clínica, com ênfase em Psicologia do Desenvolvimento e Educação do Superdotado. A partir da teoria dos 3 anéis de Renzulli, da teoria das inteligências múltiplas de Gardner e a teoria triádica de inteligência de Robert Sternberg, Virgolim afirma que a inteligência varia de cultura para cultura, tendendo a produzir padrões semelhantes de capacidades intelectuais.
“Assim, algumas culturas valorizam mais o pensamento lógico, enquanto outras valorizam a liderança e a persuasão, e outras a sabedoria e a habilidade
de saber escutar. Sendo assim, testes desenvolvidos para uma cultura podem não
ter o mesmo efeito em outra cultura, podendo inclusive mascarar o potencial do
aluno em determinadas áreas.” (Altas Habilidades e Desenvolvimento Intelectual,
pg. 36 - 2007)
Para Virgolim para que se alcance um desenvolvimento intelectual ótimo, é necessário
se levar em consideração a forma com que o indivíduo funciona em seu ambiente natural,
como ele interage com o seu contexto social e cultural e, principalmente, como
percebe suas competências ou áreas fortes, seu senso de valor e autoestima.
Pois a superdotação engloba tanto fatores cognitivos, como não cognitivos (por
exemplo, afetivos, motivacionais, de personalidade).
“A forma mais efetiva de se medir a inteligência deve contemplar a utilização
de vários tipos de medidas, como escalas de comportamento, observação, análise
de produtos e de desempenho em tarefas reais, em adição a tradicionais testes
lápis-e papel.” (Altas Habilidades e Desenvolvimento Intelectual, pg. 36 -
2007)
Segundo Fleith e Alencar (2006), a falta de informação acerca das características
do superdotado é um problema. Muitas vezes o superdotado é diagnosticado
erroneamente como autista, hiperativo ou portador de algum distúrbio de
aprendizagem, como déficit de atenção, ou de problemas de conduta
comportamental. Para as autoras, esta confusão acontece já que indivíduos superdotados podem apresentar algumas características semelhantes
àqueles com distúrbios de aprendizagem, como, por exemplo dificuldade de
concentração, alto nível de energia e dificuldade de seguir regras. Em outras
situações, o aluno com potencial superior pode manifestar comportamentos
típicos de autistas, tais como isolamento social, dificuldades em fazer amigos, ou evidenciar problemas comportamentais como dificuldades para
seguir regras e para aceitar autoridade. Embora tambem existam crianças que
apresentam, simultaneamente, comportamentos de superdotação e distúrbio de
aprendizagem, bem como crianças superdotadas com síndrome de Asperger. Nestes casos estas
crianças devem participar de serviços que atendam às necessidades desta dupla condição.
Por isso, é fundamental que psicólogos e educadores recebam um treinamento
adequado que lhes permita estabelecer diagnósticos diferenciais e encaminhar os alunos a serviços apropriados.
Perez explica que Thompson confirmou em suas pesquisas a existência da hereditariedade de habilidades
cognitivas, aspectos de personalidade e reações emocionais ao estresse. Como as
avaliações cognitivas tiveram por base instrumentos padronizados, que avaliaram
habilidades verbais, espaciais, memória de curto prazo, atenção e velocidade de
processamento, não é possível aplicar os resultados das pesquisas de Thompson à
todas as inteligências do referencial teórico deste trabalho. Perez constatou em uma pesquisa que fez com 10 adultos
com altas habilidades, que nove deles têm familiares diretos (pai, mãe, filhos)
e indiretos (tios, sobrinhos) formalmente identificados como PAH/SD ou que
apresentam indicadores de AH/SD.
5 - Identificação
Pessoas com altas
habilidades salientam-se em relação a seu grupo social, em uma ou mais
“inteligências” ou habilidades, evidenciando sua capacidade superior. Pode-se
perceber que os indivíduos com altas habilidades apresentam características que
podem ser evidenciadas em comparação a um grupo, as quais podem ser observadas
pelas pessoas de seu convívio ou por ela mesma (Negrini e Freitas, 2008).
Para que se atenda às necessidades de crianças com altas habilidades, e assim,
possam expressar suas contribuições para sociedade, a identificação é uma etapa
fundamental. Tais contribuições, no caso dos superdotados, podem ser
significativas para o futuro da humanidade (Negrini e Freitas, 2008).
Há muitos anos atrás, o método adotado pra diagnosticar um superdotado, era o
teste de QI. Porém essa ideia mudou tendo em vista a concepção das múltiplas
inteligências, que, entre outras, passa a considerar as inteligências artística,
musical e a liderança. Assim, um aluno com altas habilidades na área
cinestésica pode não ser identificado somente a partir de testes de QI. Segundo
o neurologista Leandro Teles:
“Os testes de QI são limitados na captura dos superdotados. Isso, pois avaliam
apenas alguns aspectos da cognição e habilidades mentais humanas. Alguns
superdotados têm fantástica habilidade artística, esportiva, social, criativa,
não abordada nesse tipo de testagem. Pessoas com alta pontuação em testes como
esse têm uma boa chance de ser um superdotado intelectual, no entanto o
rendimento normal no teste não afasta com segurança essa possibilidade.”
Como o objetivo de identificar as crianças com altas habilidades é proporcionar
formas de desenvolver suas habilidades suprindo suas necessidades, essa
identificação só terá sentido se for possível oferecer também um conjunto de
práticas educacionais que venham atender às necessidades e favorecer o
desenvolvimento do aluno (Brasil, 2007).
É importante identificar do indivíduo com altas habilidades o quanto antes,
pois o diagnóstico precoce atua como prevenção de problemas de desajustamento,
bloqueios, desinteresse em sala de aula e baixo rendimento escolar. E de acordo com
Negrini e Freitas:
“Ressalta-se que o processo de identificação realizado precocemente contribui na prevenção de bloqueios e possíveis problemas de aprendizagem e de fracasso escolar, tendo em vista que tem como intuito orientar pais e professores na organização do espaço e das estratégias escolares para a valorização e o desenvolvimento destes alunos. Porém este não é um processo fácil e precisa do envolvimento e comprometimento das pessoas envolvidas.” (Revista “Educação Especial” n. 32, p. 281, 2008).
“Ressalta-se que o processo de identificação realizado precocemente contribui na prevenção de bloqueios e possíveis problemas de aprendizagem e de fracasso escolar, tendo em vista que tem como intuito orientar pais e professores na organização do espaço e das estratégias escolares para a valorização e o desenvolvimento destes alunos. Porém este não é um processo fácil e precisa do envolvimento e comprometimento das pessoas envolvidas.” (Revista “Educação Especial” n. 32, p. 281, 2008).
Alto nível de energia, dificuldade de concentração, dificuldade de seguir
regras, isolamento social, dificuldade em fazer amigos e dificuldade em aceitar autoridade
são algumas características semelhantes a distúrbios de aprendizagem, que uma
criança com altas habilidades pode apresentar. Essas características devem ser
analisadas com muito cuidado para que não seja realizado um diagnóstico errado.
Muitas vezes são confundidos como Autista, Hiperativo ou Portador de algum
Transtorno de Aprendizagem, como Déficit de Atenção, ou até Problemas de Conduta.
“Na fase de identificação, os profissionais devem ficar atentos aos aspectos relacionados à criatividade, inteligência, autoconceito, desatenção e impulsividade
dos alunos, não confundindo com comportamentos de irresponsabilidade ou de
recusa, uma vez que muitas características de alunos com altas habilidades/superdotação
podem ser erroneamente interpretadas como dificuldades de desenvolvimento.”
(Brasil, 2007).
A identificação de pessoas com altas habilidades é complexa; não existe um
exame que o determina. Não é somente um teste de QI ou a indicação dos
professores que definiria o diagnóstico de superdotação. A identificação se dá
através da comparação de diversos fatores. Como o professor convive com o aluno,
tem a oportunidade de notar características indicadoras de altas habilidades.
Assim a nomeação por professores além de ser um bom indicador para superdotação
acadêmica, é bastante relevante para o diagnóstico de alunos com altas
habilidades em áreas artísticas, por exemplo; pois estes alunos podem não
apresentar um alto QI, mas possuírem traços característicos de superdotação. O
professor desempenha um papel muito importante no diagnóstico, pois tem muito a
contribuir sobre o comportamento de seus alunos.
“O professor pode ainda fornecer informações acerca dos interesses, hobbies,
atividades extracurriculares, hábitos de leitura e características do aluno em
avaliação, além de participação em projetos especiais, quando for o caso”.
(Brasil, 2007) .
Renzulli desenvolveu a Escala para Avaliação das Características Comportamentais
dos Alunos com Habilidades Superiores com uma lista de 4 comportamentos. Os professores podem utilizá-la para identificar características de
altas habilidades em seus alunos.
Nessa escala o professor pontua conforme a frequência de tal comportamento
separadamente.
Essa escala leva em consideração a motivação, aprendizagem, criatividade e
licença, e através da pontuação se pode ter uma informação no tipo de aluno
superdotado.
Apesar dos testes de QI não ser um indicador de habilidades artísticas, de
lideranças, criativas e psicomotoras, são um importante indicador para a
superdotação acadêmica e para alunos que passariam despercebido, pela sua falta
de motivação e descontentamento com a escola. Segundo Virgolim os Teste
Matrizes Progressivas de Raven ou na Escala de Inteligência Wechsler para
Crianças – WISC, são os mais utilizados no contexto brasileiro. Podemos
ressaltar a importância de testes de QI para a identificação de crianças com
diagnóstico errôneo ou dupla excepcionalidade, pois as características da
superdotação podem ser confundidas ou estarem camufladas perante outra
excepcionalidade. Assim os testes de QI podem ser utilizados como um bom
indicador para alunos que possuam altos escores neste teste.
A criatividade é outro importante indicador. Os testes de criatividade podem
perceber os superdotados do tipo criativo, que tradicionalmente não são
percebidos como portador de altas habilidades no ambiente escolar. Isto
acontece por apresentar traços às vezes indesejáveis neste contexto, como
pensamento divergente e inconformismo, que geralmente são fonte de tensão e
conflito com seus pais e professores (Virgolim, 2010). Ainda, segundo a autora,
os testes de criatividade “Podem auxiliar o professor a identificar alunos com
criatividade aparente como também aqueles alunos que possuem talentos únicos,
mas que em sala de aula passam despercebidos ao olhar desatento. É necessário salientar
que a identificação deste aluno altamente criativo é importante para evitar um
possível fracasso escolar, em função do seu pensamento divergente”.
Os pais, muitas vezes, acompanham o desenvolvimento de seus filhos com atenção,
e com isso podem contribuir para a identificação, citando características,
acontecimentos e explicando como se deu o desenvolvimento ao longo dos anos de
seu filho.
“A família constitui também uma excelente fonte de informações que não pode ser
negligenciada no processo de identificação do aluno com altas habilidades/superdotação.
Os pais podem ser solicitados a indicar atividades, na escola e fora do
contexto escolar, que seu filho gosta de realizar, descrever características,
áreas de interesse e de destaque do filho, relatar o processo de
desenvolvimento de seu filho ao longo dos anos (por exemplo, quando aprendeu a
andar, a falar, a ler, a escrever), comentar sobre relacionamento do filho com
membros da família e colegas, descrever o desempenho escolar do filho e seu
envolvimento com as tarefas escolares“. (Brasil, 2007)
É interessante notar que os colegas de classe podem identificar características
importantes de um certo aluno que o professor ainda não tenha identificado.
Podemos citar como exemplo dessa nomeação por colegas uma experiência nas
disciplinas obrigatória de estágios em educação matemática I e II, na qual
ministrei uma turma A de segundo ano de Ensino médio e uma turma B de sétimo
ano do ensino fundamental. Desde quando assumi a titularidade, os alunos da turma A me chamaram atenção para 2 alunos específicos e da turma B
para 1 aluno.
Segundo seus colegas, esses estudantes não precisavam estar na aula, pois já
sabiam o conteúdo e eram muito bons em matemática. Durante as aulas, toda vez
que eles respondiam uma pergunta, os colegas retrucavam, “não vale, ele sabe
tudo de matemática”. Embora esses alunos nunca tenham tido nenhuma avaliação
formal de superdotação, seus colegas identificaram características que os
diferenciavam e já rotulavam como tal. Essa nomeação poderia ser utilizada por uma equipe de diagnóstico caracterizando-a como indício para um aprofundamento no estudo desses casos.
Segundo Virgolim (2007), a auto nomeação pode ser um instrumento útil para a indicação de crianças que não tiveram seus talentos notados nem pelo professor,
nem pelos colegas, mas que possuem habilidades em determinada área do
conhecimento.
“Em um formulário de auto indicação, o aluno aponta as áreas em que ele julga
que apresenta alta habilidade ou talento, descreve projetos e/ou atividades
desenvolvidas por ele que ilustram seu desempenho superior na área, lista
livros que ele leu relacionados a sua área de interesse, justifica seu
interesse em participar de um programa especializado, e descreve hábitos de
leitura, áreas de interesse etc.” (Virgolim, 2010).
É importante levar em consideração a opinião dos outros professores e educadores
que passaram na vida acadêmica dos alunos, pois um estudante pode ter se
destacado em anos anteriores, mas por problemas emocionais, pessoais, ou
motivacionais pode estar, no momento, desenvolvendo um padrão de baixo
rendimento escolar “pois às vezes um professor consegue estimular um aluno e consegue obter, em um momento
da vida escolar deste, um alto desempenho em matérias escolares específicas,
no entanto, se tais oportunidades não se repetirem em anos posteriores, o aluno
pode vir a não ter outra chance de demonstrar as suas habilidades ou interesses,
perdendo assim uma valiosa oportunidade de trabalhar com mais profundidade suas áreas
fortes.” (Virgolim, 2010).
Fonte: Minhas Experiências com Alunos com Altas
Habilidades - Isaura Cardoso Linde
Publicado em 01/03/2013
Pequena entrevista com Angela
Virgolim para entender o que é e como identificar uma criança com Altas
Habilidades (Superdotação).
Angela é Professora e Doutora especialista
na área. Brasília, fevereiro de 2013.
Publicado em 28/06/2012
Dados de 2010, do Ministério da
Educação, apontam que existem mais de 9 mil alunos com altas habilidades
nas escolas brasileiras. Número pequeno se comparado à estimativa da
Organização Mundial da Saúde que calcula a existência de até 2,5 milhões
de alunos com esta característica no país.
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