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terça-feira, 8 de julho de 2014

A Pedagogia do Livre Pensar, do Krishamurti: A FUNÇÃO LIBERTADORA DA EDUCAÇÃO










Você já reparou como a maioria das pessoas a sua volta tem pouca energia, inclusive seus pais e professores? Eles estão morrendo aos poucos, mesmo quando seus corpos ainda não estão velhos. Por que? Porque eles foram condicionados e levados à submissão pela sociedade. 

Veja bem,... sem compreender seu propósito fundamental que é descobrir essa coisa extraordinária chamada mente,... que tem a capacidade de criar submarinos atômicos e aviões à jato,... que pode escrever a mais surpreendente poesia e prosa,... que pode fazer o mundo tão belo e também destrui-lo – sem compreender seu propósito profundamente, que é descobrir a verdade ou Deus, esta energia se torna destrutiva. Mas então vem a sociedade e diz, “devemos moldar e controlar a energia do indivíduo”. 

Então, me parece que a função da educação é provocar uma liberação de energia na busca da bondade, verdade ou Deus, o que faz do indivíduo um verdadeiro ser humano e, portanto, o tipo correto de cidadão, livre, independente, autônomo e autosuficiente. Mas a simples disciplina, sem a completa compreensão de tudo isto, não tem qualquer significado e se torna a coisa mais destrutiva. 

A menos que cada um de vocês seja educado de tal modo que, ao deixar a escola e entrar no mundo, esteja cheio de vitalidade e inteligência, cheio de energia transbordante para descobrir o que é a verdade, você será simplesmente absorvido pela sociedade, você será sufocado, destruído e se tornará miseravelmente infeliz pelo resto de sua vida. 

Como o rio cria as margens que o retém, assim a energia que busca a verdade cria sua própria disciplina sem nenhuma forma de imposição; e assim o rio chega ao mar, da mesma forma como essa energia encontra sua própria liberdade. 
 (Think On These Things, Chapter 24)
 
Qual é a verdadeira função de um educador?

Qual é a verdadeira função de um educador? O que é educação? Por que somos educados? Somos realmente educados? Porque você passa em alguns exames, tem um emprego, para competir, lutar, brutalizar a ambição, isso é educação? 

O que é um educador? Educador é aquele que prepara o aluno para um emprego, simplesmente um emprego, para um empreendimento técnico a fim de ganhar a vida? Bem, pelo menos isso é o que conhecemos presentemente. 

Há grandes escolas, universidades onde se prepara a juventude, rapaz ou moça, para ter um emprego, ter conhecimento técnico de modo que ele ou ela possam ter um sustento. É apenas essa a função do verdadeiro educador? Deve haver alguma coisa além disso, pois isso é muito mecânico, vazio de alma. 

Então você diz que o educador deve ser um exemplo. Tudo bem. Você concorda que terá que acompanhar a verdade do assunto, entrar nele. Mas quando você entrar nele vai acabar descobrindo a verdade disso, ou seja, que nenhum exemplo é necessário. O necessário é apenas a liberdade e a energia para você descobrir a sua própria verdade. 
(J. Krishnamurti The Collected Works Volume VIII)

A educação está em suas mãos.

Qual é o lugar da disciplina na educação? 
Eu diria nenhum e explicarei, num instante. 
Qual é o propósito da disciplina? O que você quer dizer com disciplina? Você, sendo o professor, quando você disciplina, o que acontece? Você está forçando, obrigando, impondo limites; há uma compulsão, mesmo delicada, mesmo gentil, de estabelecer o que significa conformidade, submissão, limitação, medo. 

Mas você dirá, “Como pode uma grande escola ser dirigida sem disciplina?” Não pode. Portanto, grandes escolas deixam de ser instituições educacionais e se tornam apenas instituições rentáveis, para o patrão ou para o governo, para o diretor ou o dono. Senhor, se você ama seu filho, você o disciplina? Você o obriga? Força-o em um padrão de pensamento? 

Você o observa, não é? Tenta entendê-lo e tenta descobrir quais são os motivos, os anseios, os impulsos, que estão por trás daquilo que ele faz e compreendendo-o você irá produzir o ambiente correto, a quantidade correta de sono, a comida correta, a quantidade correta de brincadeira, de que ele precisa. Tudo isso está implicitado quando você ama uma criança, mas nós não amamos as crianças, porque não temos nenhum amor em nossos corações. Apenas criamos as crianças. E naturalmente, quando você tem muitas, deve discipliná-las e a disciplina se torna um caminho fácil para enfrentar essa dificuldade de cria-las. 

Entretanto, disciplina significa resistência. Você cria resistência contra aquilo que você está impondo. Você pensa que a resistência produzirá compreensão, pensamento, afeição? A disciplina só pode construir muros em sua volta. A disciplina é sempre exclusiva, ao passo que a compreensão é inclusiva. A compreensão chega quando você investiga, quando examina, quando explora, o que requer consideração, cuidado, pensamento, afeição. 

Numa escola grande, tais coisas não são possíveis, mas apenas numa escola pequena. Mas escolas pequenas não são lucrativas para o dono particular ou para o governo e desde que você, que é responsável pela escolha do governo, não está realmente interessado em seus filhos, quem vai se importar? 

Se você amasse seus filhos, não simplesmente como brinquedos, como coisas para diverti-lo um pouco e gerar algum aborrecimento depois, se você realmente os amasse, permitiria que todas estas coisas continuassem? Não gostaria de saber o que eles comem, onde dormem, o que fazem o dia inteiro, se batem neles, se são oprimidos, se são traumatizados, destruídos? 

Mas isto significaria uma investigação, consideração pelos outros, seja por seus próprios filhos ou os de seu vizinho, mas você não tem esta consideração, não tem este amor, seja por seus próprios filhos, ou mesmo por sua esposa ou marido. Assim, a causa e a solução do problema está em suas mãos, senhores, não nas mãos de algum governo ou sistema. Assumam e deixem de empurrar a responsabilidade para os outros. E a solução de tudo qual é? É o amor, mas não este que você pensa e diz que tem.
(The Collected Works, Vol IV Bombay 9th Public Talk 13th March, 1948)


A educação correta é uma tarefa mútua. 


Se o professor assume um interesse real pela criança como um indivíduo, os pais terão confiança nele. Neste processo, o professor estará educando também os pais assim como a si mesmo, enquanto aprende de volta com eles. 

A educação correta é uma tarefa mútua, exigindo paciência, dedicação, consideração e afeto. Professores esclarecidos, numa comunidade esclarecida, poderiam trabalhar este problema de como criar as crianças e experimentos nesta linha deveriam ser feitos numa escola pequena, por professores interessados e pais cuidadosos.



A maturidade chega com a compreensão



Não existe diferença essencial entre o idoso e o jovem, pois ambos são escravos de seus próprios desejos e gratificações. Maturidade não é uma questão de idade, ela vem com a compreensão. O ardente espírito de investigação é talvez mais fácil para o jovem, porque aqueles que são mais velhos já foram esgotados pela vida. Os conflitos os exauriram e a morte sob diferentes formas os aguarda. Isto não significa que eles sejam incapazes de realizar uma investigação proveitosa, só é mais difícil para eles. 

Muitos adultos são imaturos e mesmo infantis e esta é uma causa que contribui significativamente para o caos e miséria do mundo. As pessoas mais velhas são responsáveis pela predominante crise econômica e moral e uma das nossas infelizes fraquezas é que queremos sempre um outro alguém para tomar decisões e agir por nós e cuidar do curso de nossas vidas. 

Esperamos sempre que outros se revoltem e construam o novo, enquanto nós permanecemos inativos e acomodados até estarmos seguros do resultado. A maioria de nós está atrás de segurança e sucesso e uma mente que está buscando segurança, que anseia por sucesso, não é inteligente e, portanto, é incapaz de ação integrada. 

Só pode haver ação integrada se a pessoa está cônscia do próprio condicionamento, de seus próprios preconceitos raciais, nacionais, políticos e religiosos, ou seja, só quando a pessoa percebe que os caminhos do ego são sempre separativos. 

A vida é um poço de águas profundas. A pessoa pode chegar a ele com pequenos baldes e pegar só um pouco de água de cada vez, ou pode chegar com grandes vasilhas, levando águas abundantes que o nutrirão e o sustentarão. Enquanto a pessoa é jovem, vive o tempo de investigar e de experimentar tudo. A escola poderia ajudar seus jovens a descobrir sua vocação e responsabilidades através de atividades práticas que os ajude a descobrirem-se e aprenderem a andar com suas próprias pernas e não meramente encher suas mentes com fatos e conhecimento tecnológico; devia ser apenas a base de sustentação, o solo fértil onde eles poderiam crescer felizes e integralmente, sem qualquer medo.

(Education and the Significance of Life Chapter 2 The Right Kind of Education)









Uma visão geral sobre a vida e obra de Krishnamurti


Jiddu Krishnamurti nasceu em 11 de maio de 1895 em Madanapele, uma pequena vila no sul da Índia. Ele e seu irmão foram adotados em sua juventude pela Dra. Annie Besant, então presidente da Sociedade Teosófica. Dra. Besant e outros proclamaram que Krishnamurti seria um dia um mestre instrutor do mundo, que viria como os teosofistas haviam previsto. Para preparar o mundo para sua chegada, uma organização internacional chamada Ordem da Estrela do Oriente foi formada para que o jovem Krishnamurti viesse a ser o seu líder.


Em 1929, entretanto, ao ser empossado como líder desta organização Krishnamurti em seu discurso de posse surpreendeu a todos renunciando ao papel que lhe fora destinado e dissolvendo em seguida a Ordem que tinha inúmeros seguidores e devolvendo todo o dinheiro e as propriedades, inclusive um castelo na Escócia, que haviam sido doados para o seu trabalho.


A partir de então, por quase sessenta anos, até sua morte em 17 de fevereiro de 1986, ele viveu de maneira simples e despojada e viajou pelo mundo todo falando para grandes audiências e indivíduos sobre a necessidade de uma mudança radical na consciência da humanidade.


Krishnamurti é tido mundialmente como um dos maiores filósofos, pensadores e instrutores religiosos de todos os tempos. Ele era um livre pensador e não seguia nem apresentava nenhuma filosofia ou religião, mas falava sobre coisas que preocupam a todos nós em nossa vida diária, dos problemas do viver numa sociedade moderna com sua violência e corrupção, da busca individual por segurança e felicidade e da necessidade da humanidade de se livrar do peso interior do medo, da dor, da tristeza e do apego. Ele explicou com grande precisão o funcionamento da mente humana e apontou a necessidade para trazer à nossa vida diária uma qualidade profundamente meditativa e espiritual.


Krishnamurti não pertencia a nenhuma organização religiosa, seita ou país, nem estava associado a qualquer escola política ou pensamento ideológico. Pelo contrário, ele afirmou que estes são os verdadeiros fatores que dividem os seres humanos e que provocam o conflito e a guerra. Ele lembrava incessantemente aos seus ouvintes que antes de sermos hindus, muçulmanos, ou cristãos, somos seres humanos, que somos iguais ao resto da humanidade e que não somos diferentes uns dos outros. Ele pediu que andemos suavemente por esta Terra sem nos destruirmos ou destruirmos ao meio ambiente. Ele transmitiu aos seus ouvintes um profundo senso de respeito pela natureza. Seus ensinamentos transcendem os sistemas de crenças feitos pelo homem ou qualquer sentimento de nacionalismo ou de sectarismo. Ao mesmo tempo, eles dão um novo sentido e direção à busca da verdade pela humanidade. Seus ensinamento, além de serem relevantes à idade moderna, são atemporais e universais.

Krishnamurti nunca foi um guru, não admitia seguidores e não falava como um guru, mas como um amigo. Suas palestras e discussões não são baseadas num conhecimento tradicional, mas em seus próprios vislumbres sobre a mente humana e sua visão do sagrado, portanto ele sempre transmite uma sensação de frescor e clareza, apesar da essência de sua mensagem ter se mantido inalterada através dos anos. Quando se dirigia a grandes audiências, as pessoas sentiam que Krishnamurti estava falando com cada uma delas pessoalmente, sobre seus problemas em particular. Em suas entrevistas privadas ele era um professor compassivo, ouvindo atentamente o homem ou mulher que vinha a ele em sofrimento, encorajando-os a curarem a si mesmo através do seu próprio entendimento. Estudiosos de religião descobriram que suas palavras lançavam uma nova luz aos conceitos tradicionais.

A educação foi sempre uma das preocupações de Krishnamurti. Fundou várias escolas experimentais em diferentes partes do mundo e que existem até hoje, onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior.

Krishnamurti aceitou desafios de cientistas modernos e psicólogos e os acompanhou passo a passo, discutindo suas teorias e, eventualmente, capacitando-os a enxergar os limites dessas teorias.

Krishnamurti deixou um imenso acervo em forma de discursos públicos, escritos, discussões com professores e estudantes, com figuras religiosas e científicas, conversas com indivíduos, entrevistas em televisão e rádio e cartas. Muito deste material foi publicado como livros, áudio e vídeos.

Mais informações sobre a vida de Krishnamurti podem ser encontradas nas biografias escritas por Mary Lutyens e Pupul Jayakar.
 












 

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